Baixe esse texto em pdf: Liderança Generativa
Um olhar além dos estereótipos e atributos: para o líder que há ou poderia haver ‘dentro de você’
Enquanto que as organizações olham para suas políticas, estrutura e mesmo liderança, a Universidade da Pessoa trata o tema da Liderança Generativa na perspectiva psicossocial da pessoa do líder.
A Liderança Generativa é parte de um movimento que se preocupa e contribui com a ampliação da saúde planetária. Em particular, a preocupação com o futuro e as próximas gerações são temas aí implícitos.
1. Nossa abordagem para uma Liderança Generativa faz parte das propostas da Universidade da Pessoa sustentadas no modelo das Oito Idades do Desenvolvimento de Erik Erikson.
2. A virtude generativa é uma qualidade que se desenvolve no estágio de maior maturidade da vida adulta, aproximadamente entre os nossos 35/38 e 65 anos, nosso sétimo estágio.
3. Os quatro primeiros estágios nos terão alimentado com mais ou menos confiança e esperança nas pessoas e no mundo, força de vontade ou atitudes controladoras, força da iniciativa ou medo de arriscar, sentimento de competência ou inferioridade frente a outros.
4. O ‘chamado’ generativo começará a se expressar depois que estabelecemos nossa identidade pessoal, nossa vida vocacional e nossa ligação com parceiros, amigos e a vida social.
5. Uma pessoa em trânsito por este sétimo estágio enfrentará a tarefa de construir novas virtudes negociando a tensão entre generatividade e estagnação. E é neste ponto que sentiremos a força das necessidades de retribuir e de servir a um bem maior, de sermos guiados por sentimentos de cuidado e preocupação com os outros, especialmente pela próxima geração.
6. A escolha generativa abre novos caminhos de desenvolvimento: uma produtividade criativa e ampliação das nossas perspectivas e interesses sociais, o que nos faz sentir revitalizados por isso.
7. Se escolhermos não dar atenção a esse chamado, tal escolha tenderá a nos levar a uma posição egocêntrica de autoabsorção que acabará nos levando à estagnação.
8. Generatividade significa ‘gerar’ e, gerando, ‘cuidar’, e cuidando, zelar para que nada de mal seja feito, a si e aos outros.
9. Pessoas que construíram tais forças mostram alto comprometimento com o trabalho, são pessoas que instituem e ensinam, têm um amplo espectro de obrigações e, por isto, sentem-se criativos e produtivos porque trabalham por causas significativas que os mantém realizando-se.
10. Pessoas generativas se autoatribuem responsabilidades e assumem um papel ativo no incentivo ao desenvolvimento da responsabilidade pessoal nas pessoas e outros líderes, e gerenciarão uma rede de partes interessadas para dar vida aos seus projetos autoiniciados.
11. Também envolve uma atitude fortemente comprometida com os valores da organização e instituições em que participa, representando uma liderança que vai além do informar uns aos outros, mas focada em fornecer perspectiva, validar compreensões e posições a serem assumidas.
12. Em resumo, pessoas capazes de agir livremente guiadas por suas crenças e valores, com percepção de contexto e circunstâncias, e com determinação para aprofundar as análises, serem decisivos, planejadores e operar incansavelmente para construir algo ‘que será melhor do que encontrou’.
13. O contrário de generatividade é estagnação. É um estado em que as pessoas podem experimentar infecundidade criativa, desinteresse pelas questões da educação, pouca motivação por se autodesafiar, tendendo a focar objetivos de interesse pessoal ou muito centrados no conhecimento especializado.
14. Alguns gostariam de dar o nome de ‘transformacional’ para tais qualidades. Preferimos generativo já que o resultado das ações sempre será evolutivo. Certamente, são pessoas que estão ‘além de si mesmas’, isto é, olhando para questões organizacionais e sociais: antes do ‘eu’ há um ‘nós’.
15. Na liderança, generatividade se expressa como atitudes virtuosas de transferência de conhecimento e práticas saudáveis de negociação e desenvolvimento. São pessoas que se autodesenvolvem e estão constantemente buscando aprimorar seus julgamentos. Estão orientadas para nutrir, para ações inovadoras e padrões competitivos construtivos.
16. Para uma organização ou instituição a Liderança Generativa contribui para a sustentabilidade organizacional por promover a continuidade e a mudança adaptativa.
17. A generatividade envolve uma luta constante contra a estagnação. Por isto tais líderes agirão para desencadear as energias produtivas e criativas dos líderes da próxima geração, e atuarão para desbloquear forças contrarias a mudanças ou inovações.
18. De outro lado, líderes generativos terão muitas dificuldades em se engajar com culturas organizacionais centradas no mau uso do poder, onde questões individuais prevalecem sobre as coletivas, onde as atitudes soam incoerentes com valores e princípios universais.
19. Enfim, generatividade é unicamente relevante para a liderança responsável e a boa governança.
20. Enquanto que tal perfil é altamente desejável, líderes generativos não são simplesmente ‘treinados’. Afinal, o líder que somos hoje começou a nascer há tempos atrás, o que significa que nossos padrões de atitudes e comportamentos têm uma história cognitiva e emocional mais ou menos inconsciente e que atuam no modo como escolhemos, agimos, decidimos e com o que ou quem nos vinculamos.
A Universidade da Pessoa oferece o programa O Currículo Psicossocial do Desenvolvimento da Liderança que inclui um profundo mergulho nos temas gerais das oito idades do desenvolvimento e, em particular na sétima idade, da generatividade X estagnação. Avançar neste aprofundamento nos leva a revisitar a nossa identidade social e os papéis que assumimos ou deixamos de assumir.
21. No desenvolvimento pessoal, processos de feedback ajudam. Porém há que se considerar que a capacidade de usar, reconhecer e aceitar os feedback de outros pode estar comprometida quando o nosso eu interior está em um estado de tensão, ansiedades exageradas, quando sobrecarregados por um desafio ‘acima das nossas cabeças’, ou quando más soluções dos estágios anteriores do desenvolvimento ainda não foram compreendidas e necessitam de reorganizações. Tudo isso pode nos levar a um abatimento e a um estado que nos mantém ‘presos em nós mesmos’, e essas questões precisam ser resolvidas ‘de dentro para fora’.
22. Por tudo isto, uma das bases da nossa abordagem é a do Acesso a Si Mesmo tendo a Self-Therapy como um dos recursos. Nesta estratégia criamos um ambiente para que cada líder / pessoa possa se encontrar com si mesmo e trazer à tona seus recursos generativos eventualmente represados de alguma maneira.
23. A questão da generatividade é crucial. Muitas pessoas experimentam neste estágio o que se convencionou chamar de ‘crise da meia-idade’ quando, ao olhar para traz começam a perceber que suas identidades estavam ‘hipotecadas’ a causas externas e não há tempo para ‘quitar a hipoteca’ e retomar um caminho satisfatório e realizador – pessoal e socialmente.
24. Generatividade envolve a capacidade de dar resposta às necessidades de outras pessoas, especialmente pessoas mais jovens. Envolve contribuir para o domínio profissional, alimentar produtividade e criatividade, visualizando e promulgando novas possibilidades.
25. Por isso líderes generativos farão uso de pelo menos três forças básicas: esperança, uma expectativa excitante de que o futuro reserva coisas boas e uma sensação de liberdade que convida experimentar ousadias instigantes; fidelidade, uma demonstração de que ‘eu sou confiável’, capaz de ser leal a causas capazes de integrar o passado, o presente e o futuro, e uma atitude inclusiva nos seus diferentes sentidos; e cuidado, um impulso instintivo para mostrar carinho, animar, ter interesse e criar condições para que as pessoas realizem suas capacidades em desafios grandiosos e de impacto organizacional e social.
26. A generatividade pode ser contrastada com qualidades humanas “menos desejáveis”, como o egocentrismo, a improdutividade, desdém, inércia, controle sobre os outros e desinteresse, entre outras.
27. Pessoas generativas terão cultivado distanciamento entre as questões pessoais e as sociais, isto é focam uma motivação intrínseca, autodeterminada, dirigida para o ambiente, onde um papel de liderança não é uma finalidade de realização pessoal e, sim, um meio generativo.
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Autor: Marcos Luiz Bruno